domingo, janeiro 31, 2016

Antarctica... Here We Go!

Queridos amigos,
saio essa semana em uma expedição pela Antártida. Isso mesmo, Antártida. O continente mais gelado do planeta. A exploração é feita em um quebra-gelo próprio para navegar pelas regiões polares, comandado pela Quark Expeditions.
A Antártida é o último continente faltando na minha buckelist de 25 coisas para fazer antes dos 25 anos (item n.1: Conhecer todos os continentes). 
O medo de ir sozinha só não está maior do que minha ansiedade (e frio desde já).
Não conheço ainda os outros tripulantes, mas sei que muitos são historiadores, biólogos e - que surpresa - escritores!
Infelizmente (ou felizmente) vou estar sem sinal de internet durante toda a jornada, afinal... É a Antártida! 😂
Terei, no entanto, um curto acesso ao meu e-mail por alguns minutos do dia. Por isso, convidei alguns de vocês para uma brincadeirinha:
Estarei enviando cartas por e-mail com detalhes do meu dia a dia nessa expedição. Emoticon smile
Se você receber alguma, peço a gentileza de que, assim que chegarem, vocês as divulguem em sua página do facebook, para que meus familiares e nossos outros amigos possam saber um pouco sobre as descobertas que vou fazer (e perrengues que vou passar haha). 

Em agradecimento, eu provavelmente vou lhes trazer um pedacinho de iceberg... Ou um pinguim, mas será nosso segredinho. 

No final, vou postar todas as cartas enviadas aqui na minha página. E esse será mais um dos capítulos do próximo livro. Agradeço desde já!

Vejo vocês depois do carnaval! O meu vai ser um pouquinho gelado...

domingo, janeiro 24, 2016

R. M. Drake

"We spend our lives
looking for reasons
why to stay
but sometimes leaving
is the only thing we are meant to share

So why try to be anything more
than what we are meant
to become?

Maybe coming ang going
is what makes us who we are."


Conforto

Dizem que a melhor parte de viajar é sair da nossa zona de conforto. Acho que eu já disse isso também um dia, mas não sei... Hoje penso diferente. Amo viajar, e isso vocês já sabem. E quem não gosta? Explorar o mundo, ver com meus olhos o desconhecido... Obviamente, sair da zona de conforto é inovador, é incrível e dá uma sensação deliciosa de renovação. 

Mas a melhor parte de viajar é passar a se conhecer. Descobrir as verdade por trás daquilo que você pensava que já sabia sobre si mesmo.

Eu amo flores. Como toda mulher, amo receber presentes, mas ganhar flores é que me arranca sorriso do rosto. Adoro fazer exercício, mas nada me dá mais prazer do que chocolate. Adoro estar cercada de gente, mas prefiro um fim de tarde sozinha. Defendo o amor e paz, mas eu nunca levo desaforo para casa. Já tive demais o coração partido, mas, ainda bem, isso não me impediu de me apaixonar de novo.

Hoje eu sei: nada me deixa mais feliz do que estar no meu lar. E por lar, quero dizer: o lugar que me traz sensação de pertencimento, seja em que continente for.


Então, escute sua vida. Conheça sua zona de conforto. Escute o que ela pede de você, e respeite os mistérios das lições que ainda vem. O tempo leva tempo. Posso dizer com certeza que, às vésperas de completar mais um ano de vida, aprendi a melhor das lições:

Perder o equilíbrio faz parte de viver uma vida equilibrada.


Alice no país das maravilhas

"Você é maluca, pirada, perdeu um parafuso, mas eu vou te contar um segredo: as melhores pessoas são assim."

My youth is yours

What if we run away?
What if we left today?
What if we said goodbye to safe and sound?

Youth - Troye Sivan

I was born the moment I fell in love with the world

Ainda que a ninguém tenha sido incumbida a missão de desvendar todos os mistérios deste mundo, quero desvendar aqueles que aguçam minha curiosidade. Sinto que renasci como a verdadeira versão de mim mesma no momento em que passei a explorar este planeta e o deixei me explorar em retorno.





segunda-feira, setembro 07, 2015

7 de setembro de 2015

Parei para notar que a maioria das coisas que escrevo aqui ficam guardadas no meu arquivo de rascunho, porque sempre me dá um forte receio de compartilhar certas histórias. Contar detalhes das nossas vidas nos deixam um pouquinho vulneráveis, não é? Pelo menos eu me sinto assim. Mas vez ou outra fico lendo as coisas que escrevi e publiquei um ano atrás. Como a gente muda com o passar do tempo! E, graças a Deus, nem percebemos. 

Mas o curioso é que a quantidade de histórias existentes no meu "arquivo não publicado" é cinco vezes maior do que as histórias que deixem no público. E descobri também que guardá-las me sufoca um pouquinho. No decorrer desses oito último anos vivi experiências maravilhosas mundo afora que se tornaram memórias extremamente barulhentas. Tão barulhentas que chegam ao ponto de me acordar no meio da noite e me fazem pegar o primeiro bloquinho de anotações para passá-las ao papel.

Levou tempo, mas entendi... 

Todas as minhas experiências de viagem - as descobertas, os milhões de micos, as risadas, as lágrimas, as lições, chás de aeroporto, e tudo mais - se fundiram dentro de mim, e deram origem, sem que eu percebesse, a algo lindo: meu próximo livro.

Compartilho depois um pouco dos detalhes, mas agradeço de coração a todos que tem me incentivado e acompanhado a criação de O Lado B.

Beijo enorme.

sábado, junho 20, 2015

Nossos Lindos Erros

Grande parte das lembranças que eu guardo dessas viagens por aí são dos meus erros. Tem coisa mais engraçada do que ver aquela linda foto num restaurante e lembrar que na verdade você foi parar ali porque teve preguiça de comprar um mapa da cidade, se perdeu, achou que nunca mais ia encontrar o caminho de volta e sem querer comeu a melhor comida da sua vida num boteco perdido? Ou lembrar que por trás do sorriso da foto em que você está montado num camelo no meio do deserto do Saara havia o sofrimento de ter ficado uma hora inteira no sol com a bunda doendo? E quando você viajou para competir no seu esporte e deixou a barra cair na sua cabeça? Na hora dói, mas que sensação gostosa que é contar isso para os amigos perdendo o ar de tanto rir. 

E aliás, essa é uma das poucas coisas que nós humanos do mundo inteiro temos em comum: nossa interminável habilidade de errar. A gente come coisas diferentes, ri do sotaque do outro, demonstra nossos sentimentos, sobretudo o amor, com atos nada parecidos uns dos outros (daí a grande quantidade de brigas). Mas os erros são iguais. E as vezes ainda somos caras de pau de julgar o erro dos outros. Então lembre: não seja ingrato com suas falhas, elas são suas grandes companheiras. Seja gentil com suas imperfeições. A dor e vergonha dos erros vão passar, porque se tem uma verdade universal é de que o tempo cura quase tudo.

 E quer que eu te diga uma coisa? Você ainda vai errar muito nessa vida. Muito mesmo. Vai fazer o que não devia, vai sair na hora errada, vai se calar quando devia fazer barulho, vai pegar o caminho errado no trânsito quando se distrair, vai comprar um shampoo ruim por curiosidade, vai falar coisas que vão magoar um amigo e deixar de brigar com quem merece ouvir. Vai discutir na fila do banco, vai esquecer de alimentar o cachorro, e vai errar a data do aniversário de casamento. Vai roubar a caneta do escritório e vai ter vergonha de roubar um beijo. Outros erros vão surgir. Depois você vai acordar arrependido e querendo fazer diferente. E no dia seguinte também. E depois mais um dia, e mais um. Olhando o cenário geral, vê no que dá: uma sequencia gigantesca de dias que você queria ter vivido fazendo algo diferente pra evitar seus erros de acontecerem. Quanto tempo perdido, não?

 Então abrace seus erros, admita que você não é perfeito, desacelere um pouco. Ao invés de acordar se motivando a ser diferente de ontem, acorde lembrando das coisas boas que você fez, por menores que sejam. Dê uma risada dos seus micos, peça perdão quando fizer algo errado, e então esqueça. Não se preocupe se a outra pessoa não te desculpar, quem tem que fazer isso é você. Todas as células do teu corpo existem para isso: limpar tua barra e batalhar incansavelmente por você. Não estou dizendo que devemos ser imprudentes ou não buscar progredir. Mas admita, vai... Você sabe que ainda vai voltar a cometer uma linda quantidade de erros. 


E a melhor parte é que cada um deles vai ter a sua cara.

segunda-feira, abril 07, 2014

Welcome to St. Tropez!

Meus dias aqui tem sido de uma rotina deliciosa. Vou para a aula, almoço uma salada gigante num restaurante vegetariano sensacional perto da escola (sim, mãe, eu como salada aqui!), e arranjo algo para fazer a tarde, tipo terminar meu dever de casa na praia, correr no calçadão ou andar pela cidade com um amigo meu de Manaus que por coincidência veio para Nice no mesmo dia que eu e já me apresentou várias pessoas legais que ele conheceu aqui. 

O clima aqui está bem gostoso, cheguei bem na época em que o frio tem dado lugar ao calorzinho leve da primavera. Já estive na França nas quatro estações, e com certeza essa foi a melhor, até por ser baixa estação - dizem que em julho a cidade fica lotada!

Quando pergunto o por que de terem escolhido vir estudar francês, a maioria das pessoas tem a mesma resposta: é importante para seus empregos. Então fico um pouco sem graça quando falo que minha única razão para vir é simplesmente porque quero aprender a falar. Isso me lembra que no Nepal ninguém sabia responder por que diabos tinha escolhido ir para lá... "Ah sei lá cara, vim na doida mesmo" era sempre a resposta mais comum.

Nessa minha primeira semana, fui comprar algumas roupinhas mais de acordo com o lugar - as francesas realmente estão sempre arrumadas, de uma forma bem "vesti-qualquer-coisa-que-vi-no-guarda-roupa-quando-acordei-e-mesmo-assim-estou-aqui-fabulosa". E eu estava tão acostumada a vestir calça de algodão e uma blusa qualquer lá em Kathmandu, aiai. 

Bom, neste sábado fui para Saint-Tropez numa excursão da minha escola com um amigo alemão que fiz aqui, o Paul! Leva mais ou menos três horas de ônibus para chegar lá, mas a gente foi o caminho todo conversando sobre Sex and The City e nossos outros seriados favoritos, e isso fez o tempo voar. St-Tropez me lembrou muito de Veneza. É uma cidadezinha de pouco mais de cinco mil habitantes - cuja maioria são proprietários de lindos e grandes barcos e lanchas ancorados no porto central da cidade. Todo mundo já ouviu falar do quanto a cidade é carérrima, né? Mas dá para aproveitar a cidade sem gastar absurdos no passeio. Chegamos bem na hora do almoço, e nosso guia nos levou numa padaria em uma das ruelas de St Tropez chamada "La Tarte Tropezienne" - íamos comprar nosso almoço lá para comer na orla, de frente para o mar. A primeira coisa que ele falou foi que nós deveríamos comprar junto com o almoço uma fatia da torna tradicional de St. Tropez. Fiz esse esforço, né? Hihi.

E ai-meu-pai-eterno, como essa torta é sensacional! Quem for a St. Tropez não pode deixar de provar. E como diria Liz Gilbert, se você não comer, minta para mim e diga que provou! A receita dessa torta tem mais de 70 anos, e foi criada por Alexandre Micka, dono de uma confeitaria na cidade. É tipo um bolo de baunilha recheado com um creme leve e docinho. Fizemos um city walk depois do nosso picnic, e fomos descansar um pouco na praia antes de voltar para Nice - com direito a uma parada para degustação do vinho rosê típico da região.

Acho que depois de fazer trabalho voluntário, é direito cósmico dar uma voltinha pela costa sul da França, né? Para equilibrar o karma, sei lá. Hihi!

Ah, encontrei a receita da famosa torta neste site: http://alquimiadacozinha.blogspot.fr/2011/11/tarte-tropezienne-historia-sabor-e.html

A Física da Procura

Cada pessoa tem sua própria zona de conforto. Uma experiência que me faz ir além dos meus limites pode ser, muitas vezes, algo completamente normal para outra pessoa. Nessa semana tive que me adaptar um pouco à ideia de morar sozinha - o que me levou a ter que aprender por telefone com minha mãe como fazer faxina no meu apartamento, haha.
Muitas vezes entramos em desespero quando entramos em contato direto com o desconhecido. Eu sempre tive o maior medo de dormir sozinha numa casa, e sempre fui apavorada com a ideia de realmente ficar sozinha, mas a gente acaba tendo que enfrentar as coisas uma hora ou outra né? Resultado é que descobri uma pequena coragem escondida dentro de mim para botar o pé na estrada tendo como única companhia a mim mesma - e é impressionante como você acaba conhecendo tanta gente legal quando está segura de si. Mais que isso: é impressionante como você acaba encontrando em todas as partes desse mundo pessoas que são exatamente como você.
No fim das contas, comecei a acreditar na teoria da escritora Elizabeth Gilbert, carinhosamente chamada de "Física da Procura", uma força da natureza governada por leis tão reais quanto a lei da gravidade.
Se você tem coragem o suficiente para deixar para trás tudo que te é familiar e confortável (sua casa, amigos, forma de pensar) para partir em uma jornada em busca de conhecimento, e se você considerar tudo que acontece com você durante esta jornada como uma benção, e aceitar a todos que você encontrar no caminho como professores da vida, e estiver preparado para enfrentar as difíceis realidades a respeito do mundo e de si próprio, você vai, no fim das contas, encontrar as verdades que muitas vezes nem sabe que esteve procurando por todo esse tempo.

Je ne parle pas français!

Ando atrasada nos posts porque levei essa semana inteira para me adaptar à nova rotina aqui. Quando você vai do Brasil para o Nepal, sente uma diferença. Quando vai do Brasil para a França, também sente uma diferença. Mas ir do Nepal para a França é outra coisa, né colega?

Como assim eu não posso atravessar no meio da rua? E por que diabos os carros não estão buzinando? E ai-meu-pai-do-céu, que silêncio é esse na hora de dormir, o que fizeram com os cânticos hindus noturnos na casa dos vizinhos?

Essa minha experiência em Nice é bem mais individual do que a viagem para Kathmandu. Aqui eu moro sozinha, preparo minha comida (ou como em um dos muitos restaurantes da cidade), tive que me virar para acertar chegar na escola, volto para fazer o dever de casa, etc. Apesar de ser uma cidade extremamente mais arrumada que a minha, já tive que sair da minha zona de conforto nessa primeira semana. Depois de alguns dias aqui, só porque eu já sabia andar pela cidade e arriscar um francês mixuruca comprando pão na Boulangerie da esquina, já estava me achando a Miss-Independent-Francesa, até que tive que ligar para minha mãe para ela me ensinar como fazer faxina.

Então deixa eu explicar um pouco melhor essa parte da minha viagem: como eu sempre quis aprender outro idioma, optei pelo francês, porque não consigo gostar de espanhol, por ser uma língua útil e bonita. Como não queria morar numa cidade tão grande como Paris, optei por Nice, que fica no sul da França, muito pertinho de Mônaco e da Itália. Me matriculei em um curso de 3 meses numa escola chamada France Langue, que fica localizada na região central da cidade, e a 5 minutos da praia, que tem uma orla linda. Já fiz algumas aulas de francês em Manaus, mas só do básico mesmo... então aqui entrei no nível iniciante. 

Minha professora é uma senhora de 52 anos muito alegre e pequenininha chamada Brigitte. Na minha sala somos 7 garotas, cada uma de um país diferente. Além de mim tem uma médica alemã, uma arquiteta chinesa, uma enfermeira japonesa, uma cabelereira de Liechtenstein (descobri que isso é um país perto da Alemanha e da Áustria), uma estudante de hotelaria de Portugal e uma garota da Suécia. Nenhuma de nós fala mais do que o super básico. Na nossa primeira aula aprendemos o ABC - sério! Mas nossa professora é super paciente, e super fofa! A regra é só falar francês, então aos trancos e barrancos a gente vai tentando entender e ser entendida, mesmo que com mímicas - o que torna a coisa toda mais divertida ainda. Toda semana o turno das nossas aulas muda. Semana passada estudávamos pela manhã, e agora passamos para a tarde. 

Como em qualquer outro intercâmbio, você pode escolher morar com uma hostfamily, pode alugar um dos apart-studios estudantis que a escola tem, ou alugar um apartamento por si próprio. Como não vou ficar tanto tempo assim, peguei um dos studios, que é tipo um mini loft - bem pequenininho, mas confortável, com uma cozinha equipada e um banheiro todo arrumadinho. Fica localizado numa rua atrás da Promenades des Anglais - ou seja, levo 3 minutos para estar na praia. Em compensação, levo quase uns 35 minutos andando para chegar na France Langue - aliás, não sei porque em todo santo intercâmbio meu, eu dou azar de morar longe da escola. Hm, pensando bem, até mesmo na minha própria cidade eu moro longe!

Mas enfim, Nice é uma cidade relativamente pequena: tem cerca de 300 mil habitantes, alguns dos quais não falam inglês, e outros dos quais fingem não saber porque né "você está na França, então fale francês, oras!". Mas confesso que acho isso legal, esse patriotismo. Ta aí algo semelhante ao Nepal: esse orgulho cultural, a preservação dos costumes locais. Apesar de nós sermos super orgulhosos de sermos brasileiros, tendemos a ser meio encantados com as coisas que vem de outros países - em especial às tendências americanas e européias. 

Situada na Riviera Francesa, Nice é um dos destinos turísticos mais populares. E sua atração principal é... o mar! Mas apesar de lindas, as praias tem um defeitinho: são compostas de pedras ao invés de areia, o que acaba sendo meio desconfortável. Mas a orla é maravilhosa, do jeitinho que brasileiro curte: calçadas amplas para você andar de bicilceta, correr, sentar nos vários bancos de frente para o mar, ou apenas passear enquanto observa a paisagem. Como eu moro bem pertinho, todo dia acordo cedo para correr antes da aula: é sensacional! E lá você vê todo tipo de gente, em especial as famílias que levam suas crianças no fim da tarde para brincar com as pedrinhas da praia e casais de velhinhos passeando de mãos dadas - garantido uma cena de fundo bem européia.


Depois de uma semana, fico feliz de já perceber que meu francês tem progredido bastante. Já consigo me comunicar nas lojas sem fazer aquela cara de desespero - o que me lembra a terrível cena de no meu segundo dia ter explicar para uma vendedora que eu precisava de um ferro de passar. Já consigo até mesmo conversar com a recepcionista aqui do condomínio. E claro que na pior das hipóteses posso sempre recorrer ao bom e velho "Je ne parle pas français!".

terça-feira, abril 01, 2014

Bonjour, Nice!

Fui chorando o caminho todo para o aeroporto de Kathmandu. Depois de duas semanas, chegou a hora de passar para a segunda fase da minha viagem.A idéia de vir estudar na França me dá mais medo do que ter ido pro Nepal. 

Depois de três voos, cheguei em Nice. Linda Nice. Limpa Nice. Elegante, sem poeira, e sem barulhos de buzinas Nice. Nice do clima quentinho - e de pessoas frias.

Minhas primeiras horas aqui foram de chororô total. Cheguei para pegar a chave do apartamento estudantil em que vou ficar - que é uma fofura, e todo arrumadinho - e a mulher da recepção me explicou tudo em francês, mesmo depois de eu repetir mil vezes que só falo inglês.

Já me senti sozinha nas primeiras horas. Entrei num pequeno desespero e comecei a pensar se não teria sido melhor fazer outro intercâmbio em inglês, porque como-diabos-eu-vou-ficar-aqui-por-meses-sem-falar-francês?

Esse é um idioma que me deixa nervosa... Na hora de falar, me atrapalho toda e confundo coisas básicas como "pardon" e "merci" - o que me leva a pedir desculpas para a moça do caixa do mercado, e agradecer quando esbarro em alguém. Vou precisar de muita sorte - e um bom dicionário - nesses próximos meses.

Mas então sentei no chão do meu novo lar e respirei fundo. Minha mente estava um turbilhão, mas então lembrei que em momentos de desespero, de nada adianta perder o controle das emoções. O local de paz da mente é o coração. Então fechei os olhos e agradeci a Deus por todas as minhas experiências no Nepal, e por ter chegado em segurança aqui. Em momentos de insegurança, nossa mente é como um neném: choraminga, faz barulho, não sossega... até que você dê colo. O único lugar em que ela encontrará paz é no silêncio de dentro do coração - é lá que Deus mora. 

O condomínio dos apartamentos estudantis não tem sala comum, então não conheci ninguém ainda. Amanhã é meu primeiro dia de aula, e como não consegui entender nada das instruções, recorri ao google para pesquisar o caminho da minha escola. Dei algumas voltas na redondeza, e fiz algumas comprinhas para estocar minha cozinha. 

Depois de um tempo arrumando minhas coisas, meu apartamento pareceu mais confortável - meus pertences nos armários, fotos da minha família e amigos nas estantes. 


Pedi tanto a Deus que eu tivesse um tempinho para ficar sozinha, escrever meus próximos livros e refletir sobre meus planos para o futuro. E aqui está esse momento. Foi então que percebi que a felicidade depende inteiramente de como vemos as coisas. Eu estou radiantíssima por ter - ai ai ai - um banheiro próprio com água quente interminável e um chuveiro com boxe!!

domingo, março 30, 2014

E quem é que sabe?

Existem momentos e locais em que você alcança a plenitude do seu ser - um cantinho no mundo que faz florescer aquilo que você verdadeiramente trás dentro de si. Tenho uma amiga que encontrou seu verdadeiro eu depois que virou mamãe. E outra que antes era uma estudante tensa de medicina que resolveu largar tudo para seguir seu sonho: a faculdade de cinema. 

Mas acho que muitas vezes desconhecemos essa face que trazemos dentro de nós porque ficamos muito preocupados com o fatores externos - casar porque todos estão casando, manter o emprego que é mais convencional, seguir os caminhos que sempre tivemos dentro da mente como "o caminho certo".

Conheci uma mulher espanhola de quase quarenta anos que viaja o mundo para tirar fotografias. Ela não mora numa cidade específica, realmente mora na estrada, e tem vários livros e revistas lançados com as fotos que tira. Admiro muito as pessoas que tem essa coragem de largar tudo e cair na estrada sem data para voltar para seus países. Ela me contou que tinha sido casada quando tinha uns vinte e poucos anos, mas acabou se separando pouquíssimos anos depois... "Ele era meu namorado da faculdade, quando nos formamos, já era certo que casar era o próximo passo a ser tomado". Na minha inocência (e talvez por eu ter me identificado um pouco com a vida que ela leva) perguntei quando ela pretendia parar de viajar para se estabilizar. E claro que a resposta dela foi um belo "e por que diabos eu faria isso?".

E isso instantaneamente me levou para os momentos em que eu me senti tão culpada por todas as vezes em que não aguentava mais estar na minha cidade e ansiava fortemente pela chegada das minhas viagens. Tem alguma coisa dentro de mim que me faz sentir plena quando estou nessas experiências. Um ladinho de mim toma conta do meu ser de forma que talvez meus próprios amigos não reconhecessem - cada pedacinho do meu corpo e mente de repente viram 100% daquilo que nasceram pra ser. Não tenho a pressão do "dever ser" aqui. E o que é mais interessante: você para pra ver que existem pessoas com vontades tão estranhas quanto as suas - ou até mais.

Encontrei um grupo religioso de americanos que eu JAMAIS diria que são jovens membros de uma igreja protestante. Os conheci num estúdio de tatuagem enquanto um deles estava fazendo - acredite você - dreads no cabelo! Quando fui fazer rafting, conheci um casal bem jovem de dinamarqueses que resolveram dar uma pausa na vida para viajar por um ano pela região oeste da Ásia. Por que? "Não sabemos.. Só escolhemos na doida mesmo."

Hoje é meu último dia no Nepal (ainda vou escrever sobre os dias passados, pois não tive tempo). Tem um nó enorme no meu estômago, pois eu realmente não queria ir embora ainda, mas minhas aulas em Nice começam amanhã, e por isso não vou poder estender minha estadia. Em nenhum momento dessas semanas me senti sozinha. Não dá tempo. Ou você está sempre acompanhado dos amigos da residência, ou - o que é melhor ainda - você está acompanhado de um lado de si que não conhecia antes. 

Tive um crescimento aqui que jamais imaginaria ter. Apesar do pouco tempo, não sei colocar tudo em palavras muito bem. Descobri que a inconstância que enxergam em mim vem do meu constante dilema entre minha curiosidade de mundo, e meu medo de perder a segurança do "estável". Não consigo meter o pé na estrada sem saber que tenho um cantinho seguro com data certa para voltar, mas também não consigo ser feliz, pelo menos por enquanto, fincando meus pés num só lugar - meus amigos e família sabem o quanto eu me torno insuportavelmente mal humorada, né? Sempre achei que estava errada por essa tendência a buscar coisas diferentes, até que conheci pessoas que também são assim. 

O que quero dizer é: sinceramente sinto que não tem fórmula para a felicidade - a gente lê isso em todo canto, né? Mas se sentir livre de verdade para fazer suas próprias escolhas nem sempre é fácil. Sei que as vezes sou injusta com a cidade em que moro, mas é muito difícil se sentir adequada num local onde todos julgam sua vida de acordo com um padrão certo de comportamentos. Casar antes de tal idade. Ter tantos filhos. Fazer uma festa de casamento em tal buffet. Só comer clara de ovo, para #ficargrandeporra - hahaha. 

Nessa viagem me livrei de todos os fragmentos de receios e culpa que senti por não me adequar nas expectativas que os outros tem de mim - claro que sempre nos importamos com a opinião dos outros. Mas parei de me angustiar por não encontrar dentro de mim vontades que algumas pessoas tem desde sempre. Existe um momento em que você se depara com a pergunta "que tipo de mulher eu vou ser?". Aprendemos que temos que ter tudo ao mesmo tempo: a carreira, o marido, o tempo para cuidar da família, o look, as viagens, o carro do ano... Pois eu finalmente entendi que não quero ser essa mulher.

Ah, sei lá, deixa teus instintos te levarem. Eu não sei o que o meu futuro me reserva. Mas e quem é que sabe?

quarta-feira, março 26, 2014

As Mulheres do Nepal

Semana passada levamos algumas crianças do orfanato ao cinema. Assistimos a um filme chamado Queen, de Bollywood, que contava a história de uma garota de uma família bem tradicional indiana que é deixada pelo noivo, e fica de coração partido, mas ainda assim resolve viajar sozinha para a Europa com as passagens que tinham sido comprada para sua lua de mel. Daí na viagem ela se transforma numa mulher mais moderna, conhece pessoas de várias partes do mundo, aprende a ser mente aberta, compra roupas diferentes, etc e tal... Para mim, não foi uma história surpreendente, mas depois de entender um pouco mais sobre as mulheres dessa região da Ásia, compreendi que o efeito deste filme aqui é mais impactante. Teve um momento em que apareceu um sutiã em cima da cama da personagem, e a imagem aparece meio tremida. Minha amiga Maria me explicou que aqui a imagem de lingerie é censurada, e que mulheres não falam a palavra "calcinha" ou "sutiã" se há um homem presente. No filme, a personagem - que já tinha sido NOIVA - conhece um chef italiano e dá seu primeiro beijo (!!!!). Uma das coordenadoras daqui, uma garota nepalesa de uns vinte e poucos anos, me explicou em meio a risadinhas que nem sempre homens e mulheres se beijam antes de casar. 


 O casamento é o momento mais importante da vida da mulher nepalesa, já que isso determinará o resto de sua vida - geralmente os casamentos são arranjados pelos pais. A sociedade é dividida em castas, então as vezes há uma liberdade maior entre as castas mais baixas quanto à escolha do seu marido. Em algumas regiões, a bigamia é muito comum. Infelizmente, muitas mulheres sofrem agressões físicas e psicológicas em seus lares, mas a lei do país não as protege se elas resolvem se divorciar. As mulheres são, na prática, subordinadas aos homens.

Minha amiga Linda, da Alemanha, me contou que teve que escrever um artigo sobre as causas da grande quantidade de estupro em países como a Índia e o Nepal. Na maioria das vezes, os casos de agressão sexual são feitas por grupos de rapazes jovens. E quando a mulher procura a polícia, geralmente é estuprada novamente pelos policiais - "para aprender a lição". Lamentavelmente, a proteção dada à mulheres é bem fraca. A mentalidade patriarcal é a razão principal para que a violência. No Nepal há uma cultura de silêncio pela falta de apoio e a dificuldade de recorrer ao sistema legal.

Li que a ONU faz sua análise do status das mulheres de um país levando em conta o acesso à educação, recursos financeiros, poder político e sua autonomia pessoal para tomar decisões. Quanto analisado por esse contexto, o status das mulheres do Nepal é bem abaixo da média. Por ser uma sociedade patriarcal, a vida de uma mulher, conforme os costumes e conforme as leis, é quase que completamente controlada por seu pai ou marido. E elas não tem direito à herança. Minha impressão foi que, ao se casar, a mulher nepalesa passa a ser uma espécia de empregada do marido.

Minhas impressões das mulheres daqui foram positivas: elas são bem humoradas, simpáticas, prestativas e estão sempre sorrindo para você. A típica mulher nepalesa geralmente tem cabelos longos e escuros - algumas fazem mechas avermelhadas. Elas vestem trajes parecidos com os saris indianos chamado de guniu. O guniu pode ser trançado com algodão ou tecidos de seda. No Nepal, o sari é comumente preso ao redor da cintura e usado com um xale em separado como enfeite na parte de cima do corpo. O estilo de dobras é chamado de "haku patasi". Muitas vestem calças e roupas mais modernas, mas não mostram os ombros e nem as pernas. Nós voluntárias fomos instruídas a não usar roupas coladas ou vestidos justos.




As feições da nepalesa lembram um pouco as chinesas, pois tem os olhos puxadinhos, mas são um pouco morenas como as mulheres indianas. Elas geralmente usam aquele pontinho vermelho no meio da testa, e usam maquiagem forte nos olhos. Para minha surpresa, vi muitas meninas novinhas (de uns 3 ou 4 anos de idade) maquiadas! 



Mais da metade da população feminina do país é analfabeta, e são escassas as mulheres que estudaram inglês. A maioria das mulheres trabalha no campo, cultivando vegetais ou arroz.

Durante o período de sua menstruação, as mulheres não podem entrar em casas ou templos nem usar a rede pública de águas. A participação em festivais também lhes é vedada e nem sequer podem tocar noutras pessoas, segundo informação das Nações Unidas.

Parábola Hindu

Uma parábola hindu conta que certa vez, havia um velho cão que fora abandonado pelo dono em uma floresta por não mais lhe servir de utilidade no pastoreio. Aconteceu que, o velho cão ao caminhar pela tenebrosa floresta percebeu que estava sendo observado por uma onça, que se encontrava ali a espreita pronta para dar uma investida.

Pensou então o velho cão:- Ora, se eu correr, estou velho demais para agüentar a corrida e se eu ficar e lutar, provavelmente perderei a luta pela minha já avançada idade.
Devido a difícil situação, o cão enxergou próximo a ele uma ossada, que o deu uma idéia. Ele mordeu a ossada, virou de costas para a onça e disse:- Que onça mais gostosa! Como seria bom que aparecesse mais uma, para enfim, poder saciar a minha fome!

A onça, diante disso, não teve outro meio senão correr o mais longe possível, já que o cão era um devorador de onças.

Porém havia um macaco que observara tudo em cima da árvore e ficou enciumado com a esperteza do velho cão e assim pensou:- Puxa! Tanto tempo que venho fugindo da onça aqui em cima da árvore e esse cachorro nem se movimentou para afastá-la. Já sei! Contarei para a onça a farsa do cão e assim, ele não me caçará mais.

Refletindo isso, o macaco foi à procura da onça e falou sobre a mentira que o velho cão contara. A onça, por sua vez, agradeceu ao macaco e fez um pacto com ele dizendo:- Puxa macaco, você é meu amigo mesmo! A partir de hoje não vou te caçar mais, e como prova disso, vou deixar você subir em minhas costas enquanto eu pego aquele cachorro. Sobe aí e vamos logo.

Assim fez o macaco, subiu nas costas da onça e juntos foram a caça do velho cão. Ali perto, no entanto, já estava o cão a espreita e de tal forma falou:
- Cadê aquele macaco safado que ficou de me trazer mais uma onça?

domingo, março 23, 2014

Religiões

Me interesso muito pelo estudo das religiões. Quando você sabe as crenças de uma pessoa, fica mais fácil entender suas perspectivas. Desde o início do tempo, as religiões desse mundo tem sido os fatores mais influentes no comportamento das sociedades - o modo de vestir, de falar, de se comportar, e até mesmo de se alimentar. Até mesmo o estudo da mitologia grega é importante - de que outra forma entenderíamos o significado de expressões como "calcanhar de aquiles", ou "fulano é narcisista demais"?

Além disso, ao longo da História é possível perceber a conexão entre religião e as leis de um local. Mesmo em tempos atuais, existe aquela pontinha de influência. Já viram que na Constituição Federal do Brasil - que é um país laico - tem um trechinho no prólogo, dizendo "Nós, representantes ... promulgamos, sob a proteção de Deus..."?

Achei interessante ler que, segundo Buda, você será feliz profissionalmente quando descobrir o seu dom para o trabalho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele. Curiosamente, isso me lembrou uma palestra que ouvi do pastor americano Mike Murdock. Ele estava falando de um dia em que estava observando a pesca de peixes tropicais: Quando o peixe era colocado no chão, ficava se mexendo sem muito entusiasmo, e Murdock pensava "Nossa, peixes são criaturas tolas: não andam, não rastejam, e não emitem sons.". Mas então, quando os peixes eram arremessados de volta para os rios, eis a genialidade e rapidez com a qual seus corpos se movimentam!

Assim somos nós: precisamos encontrar nosso lugar no mundo. Euzinha aqui achava o máximo a idéia de ser pilota de avião quando era pequena. Mas temos que conhecer nossos limites, também. Imagina se eu fosse me guiar só pelo que minha mente determina? Morro de medo de altura... Logo, digamos que eu seria uma péssima pilota, né? 

Quando você parar para refletir sobre seus dons, vai encontrar exatamente o local onde deve exercê-los. E ninguém poderá competir com você, porque aquele é SEU lugar. Não adianta querer ser um renomado pediatra se você nem mesmo gosta tanto de crianças, ou estudar que nem louco para ser juiz quando você não tem a mente aberta necessária para ser imparcial nos processos que chegarem a sua mesa.

Vê como duas religiões tão diferentes trazem filosofias de vida tão similares?

Quando ficamos teimosos em achar que nossas crenças são as únicas verdades do planeta, nos tornamos cegos. Saiba ver as coisas com o coração, seja na área da religião, seja em qualquer outra.

23 de Março

Depois que saí do colégio, perdi aquela referência de "melhor amigo". Passei a ver que, na verdade, temos alguns amigos que são ótimos para certas situações, e outros que encaixam melhor em situações diversas. Mas fato é que em todo amigo que tenho, reconheço um lado meu - acho até que é reconhecendo características nossas em outras pessoas que construímos nossas amizades, né?

Por alguma razão, as experiências daqui do Nepal me fazem lembrar muito da minha amiga Jéssica. Estudei com ela no ensino fundamental, no Ida Nelson. Em quase todas as lembranças que tenho daquela época, ela está presente. Nos distanciamos no ensino médio, mas logo retomamos o contato quando começamos a faculdade. E desde lá, somos um pouco inseparáveis, mesmo quando distantes. Viajei com ela para Vancouver alguns anos atrás. Apesar de eu não ter me identificado muito com a cidade (eu normalmente prefiro cidades pequenas), foi um dos melhores intercâmbios que já fiz. Acho que desde lá criamos uma conexão quase que de irmãs. Quando fui trabalhar no asilo hoje, senti saudade da companhia dela - acho que justamente porque o lado de mim que mais sobressai aqui é o meu lado Jéssica. Então amiga, quando você ler isso, saiba que estou te carregando comigo aqui para todo canto.

Sabe, apesar de ter mais dois brasileiros aqui na casa, ainda não vi NENHUM brasileiro nas ruas. Sério, nem umzinho. Nadica. Ah, e isso me lembra que fico toda confusa aqui na hora de cumprimentar as pessoas - manauara, sou acostumada a dar os dois beijinhos, né?

Bom, agora que o tempo melhorou, vou tomar banho. Já contei para vocês que passo mais tempo limpando o banheiro do que de fato tomando banho, aqui? O banheiro não tem box, então o chuveiro fica bem no centro - ou seja, quando a gente toma banho, molha tudo! Por isso, tem um rodo para você enxugar o banheiro inteiro depois que termina. A

h, e tem que tomar banho rápido mesmo, senão não sobra água quente para os outros - e você não vai querer tomar banho gelado no frio da manhã. Nunca tive tanta saudade de algo como tenho de cortinas de banho.



O Lar de Idosos

Existe uma diferença bem grandinha entre vir para cá para ensinar inglês às crianças e vir para cá para trabalhar no asilo. Ambos são serviços necessários para a comunidade daqui, mas a maioria das pessoas escolhe o primeiro - eu própria vim na intenção de dar aula. Só que, como já expliquei, as vezes precisam de você em outro canto. Quem vem num programa de trabalho voluntário tem que vir preparado para quaisquer eventuais mudanças no programa. 

Assim que cheguei, perguntei do Niff (não sei escrever o nome dele, mas é o Gerente de Projetos da Idex) em que atividades estavam precisando mais de voluntários. Quando soube que era o Lar de Idosos, imaginei um hospital grande em que serviríamos chá e brincaríamos de alguns jogos com os velhinhos - não se ofendam quando eu usar o termo "o velhinho", pois uso de forma carinhosa.

Pois bem, chegando lá, descobri que o que eu tinha imaginado era algo completamente distante da realidade. O Lar de Idosos é uma casa que fica próxima a um templo hindu em que moram vários idosos, na faixa de 70 anos. É tudo muito sujo, com pouquíssimos recursos. São cerca de 40 idosos, e todo dia temos que acordá-los, tirar as roupas, dar banho, lavar as roupas, alimentá-los, lavar os quartos e camas, e outros serviços. Existe um quarto com as camas dos homens, e um quarto com as camas das mulheres, e os guarda roupas são caixas de papelão encostadas nas paredes do canto.

Apesar de parecer que é só esforço físico, o trabalho envolve seu emocional também. São 40 velhinhos para tomar banho, e a maioria tem que ser carregado, porque não conseguem andar ou mexer os membros - eles são banhados numa cadeirinha no canto do quarto. Ao mesmo tempo em que você tem que ser rápido, tem que ser atencioso para as necessidades de cada um - alguns choram na hora de ir tomar banho, outros não deixam você tirar as roupas porque eles escondem pacotinhos de biscoitos dentro das fraldas, hihi. Por isso, você tem que equilibrar bem seu lado prático e seu lado humano. 

O que dificulta um pouco é o fato de quase nenhum falar inglês. Eles ficam conversando ou pedindo algo para a gente, e ficamos com aquela sensação de "puts, queria entender o que você tá falando, minha senhora."

Brincar com crianças de um lado para o outro é muito fácil se comparado ao esforço que nos é exigido quando cuidamos dos velhinhos. Aqui, a percepção da contribuição que você faz é mais imediata. Mas tem que deixar de lado qualquer frescura. Claro que é difícil aguentar o cheiro forte de urina quando você vai lavar os lençóis - e acho que não existe nada mais íntimo do que limpar o cocô de outra pessoa. Nunca na vida me imaginei fazendo isso. E também nunca imaginei que diante dessa situação, eu conseguiria fazer tudo sem pestanejar.

Mas ó, não digo nada disso esperando que vocês me parabenizem pelos meus atos. Amor ao próximo é uma obrigação nossa enquanto seres humanos, independentemente de sermos cristãos. Não vim para cá em busca de perdão divino, ou carma, ou sei lá. Nem vim na intenção de relatar os sofrimentos humanos, pois isso existe em qualquer canto do mundo. Repito: os heróis do mundo são aqueles que, todos os dias, batalham por um mundo melhor. Na verdade nem sei explicar para vocês as razões que me levaram a escolher esse programa.. A única coisa que eu sabia de certeza era que queria vir para a Ásia. Acho que certas vontades que surgem na gente não precisam de explicação. Só o coração conhece. 

Nessas horas lembro de um livro do John Green, intitulado "Quem é Você, Alasca?". O personagem principal menciona algumas vezes que está em busca constante por um Grande Talvez. 

Acho que é isso que busco também.

sábado, março 22, 2014

O Budismo

Aqui no Nepal, 80% da população segue o Hinduísmo. Pelo que li, a porcentagem de budistas é de 10%, enquanto a porcentagem restante se divide em Muçulmanos, Cristãos e outros. Depois que visitei o templo de Pokhara, resolvi ler um pouco mais sobre o Budismo. Vou contar aqui um pouco sobre o que aprendi - lembrando que minha mente ocidentalizada provavelmente não consegue assimilar todos os preceitos e filosofias.

Já mencionei que Buda nasceu no Nepal, né? Acredita-se que ele nasceu na cidade de Lumbini. Seu nome era Siddharta Gautama, provavelmente viveu no século VI a.C. - c.563 a.C. - c. 483 a.C. Ele era integrante de uma família muito rica da região, e vivia num palácio, cercado de luxo, desconhecendo a vida das pessoas que moravam lá fora. Buda, na verdade, é o título dado 

Então, um pouco mais velho, resolveu explorar o mundo lá fora, e foi quando entrou em contato com a miséria e pobreza pela primeira vez. Ele então abandonou o palácio em que vivia, deixando para trás sua esposa e família, e dedicou-se a buscar explicações e soluções para o sofrimento humano.

Dizem que Buda começou a meditar até alcançar a iluminação, e então passou a ensinar seus aprendizados. Ele dizia que não é suficiente alcançar um estado de paz - é preciso ensinar para aqueles que não conseguiram ainda alcançar também. O princípio básico do budismo é a busca por evitar o excesso de desejos materiais como meio de terminar com o sofrimento e insatisfação. Para isso, é preciso se dedicar a ações e pensamentos positivos e simples. Algumas pessoas me falaram aqui que Buda não é adorado como um Deus, e sim seguido como um Mestre. 

Ah, e existem várias vertentes do budismo. No Tibete, há a busca por uma jornada espiritual mais solitária. O mestre tem a função de guiar a pessoa ao longo de sua caminhada, buscando o progresso da alma. Acredita-se em quatro realidades essenciais: tudo que é terreno trás sofrimento, a fonte do sofrimento é o desejo em excesso, devemos nos libertar do sofrimento, e o caminho para a paz é feito através do exercício da paciência, da vigilância, e pelo discernimento de nossos pensamentos desequilibrados. 

21 e 22 de Março

Ontem - 21 de Março:

Gente, tenho um sério problema com sono: não sei dormir por menos de 8 horas. Então quando o despertador tocou 5 am para que a gente acordasse e fosse ver o nascer do sol, meu primeiro pensamento foi "até parece que eu vou sair da minha cama quentinha para ver o nascer do sol... Em Manaus certeza que é mais bonito, pfff". Mas depois de 10 minutos resolvi levantar e ir. Tava MUITO frio (se bem que sou suspeita para falar, pois sinto frio toda hora), então tive que comprar luvas, e isso me fez lembrar de quando minha mãe estava me ajudando a fazer as malas e eu insisti em não trazer luvas na mala "porque até parece que vou precisar, mãe!". Lição aprendida: as mães estão sempre certas (to vendo o sorriso da minha daqui).

Fomos de van para o topo da montanha (e pegamos um pouco de transito, pois todos os turistas foram fazer o mesmo). Lá em cima, ainda bem, tinha Massala Tea para comprar. Peguei uma xícara grande e fumegante, e procurei um cantinho para sentar e conversar com minha amiga Maria enquanto o sol não aparecia. E então, passados alguns minutos, o show começou. Quase engasguei com meu chá: aquele era, sem sombra de dúvidas, o nascer de sol mais sensacional que eu já vi em toda a vida. O sol estava tão vermelho, mas tão vermelho, que refletia no branco das montanhas e fazia parecer que todo o cenário tava pegando fogo. E os passarinhos voando no céu só faziam a cena ficar absurdamente mais linda.

Não demorou muito para o sol ocupar seu lugar majestoso no meio do céu, que tinha pouquíssimas nuvens. Ficamos lá por mais uns trinta minutos, na esperança de que, de repente, pudesse acontecer tudo de novo. A vista para as montanhas estava linda linda linda!

Tiramos algumas fotos, compramos alguns xales feitos de pelo de Yak (tipo um touro enorme que vive nas montanhas), e fomos ao hotel para tomar café. Pela manhã, o programa era fazer Paragliding - e eu até teria topado, mas morro de medo de altura. Então fui descansar e depois saí com as meninas para comprar algumas Pashminas - dizem que as daqui do Nepal são as melhores do mundo!

Pela tarde fomos fazer um sightseeing! Nossa primeira parada foi num templo maravilhoso, localizado no topo de uma montanha: o World Peace Pagoda. Com certeza aquela é uma das construções mais lindas que já vi na vida - imponente, branca e dourada, com uma estátua central de Buddha na entrada. Nenhuma foto tirada faz jus à sensação de estar ali. Você tem que deixar os sapatos na entrada, e subir uma grande escadaria. A paz que a gente sente ali em cima contagia cada pedacinho de você.



Depois fomos ver algumas outras atrações da cidade, como a cachoeira de Devil's Fall. Não me impressionei muito, afinal, Presidente Figueiredo dá de mil, hihi.

E então, infelizmente, começou a chover. Tivemos que voltar para o hotel, e o passeio de barco no lago foi cancelado. Então fomos para um Café que ficava na esquina, e tomamos chá com bolinhos. Voltamos e, de novo, tomamos algumas cervejinhas no terraço do hotel.

Hoje, 22 de Março:
Acordamos cedo para voltar à Kathmandu, mais uma vez uma viagem de 7 horas. Os outros voluntários da casa foram também numa road trip, só que para outro lugar. Gosto muito de todos eles, são bem divertidos. Em especial, criei afinidade com duas delas: a Fernanda, minha roomie aventureira, que é mexicana e está aqui desde janeiro (e acho que fica mais 5 meses), e a Maria, uma brasileira de Porto Alegre muito simpática, e que adora tomar chá e conversar!

Chegamos ainda agora na casa, e a chuva continua caindo, criando um clima preguiçoso em todo mundo. Acho que o programa de hoje vai ser ficar aqui na sala comum vendo filme e tomando um vinhozinho (sempre, né? haha). Amanhã temos trabalho (Domingo não é fim de semana aqui)!

Beijo e tchau.

20 de Março

Dia de road trip! Acordamos bem cedinho, pegamos um ônibus turístico na rodoviária e partimos em direção a Polkhara! 7 horas de viagem não foi fácil, gente! Para começar, as estradas são bem estreitas, porque a maioria atravessa as montanhas. E por ser cheia de buracos e pedras, acho que não passamos de 50 km/h.

O cenário é sensacional! Você vai o tempo todo vendo as montanhas, vilarejos, e até mesmo os locais de cultivo agrícola. Até chegar em Polkhara, o ônibus faz duas paradas rápidas, para quem quiser usar o banheiro ou comer alguma coisa. É interessante ver que cada vez que você vai se aproximando da área rural, as roupas das mulheres são mais típicas - tudo sempre muito colorido!

E então chegamos em Polkhara! É uma cidade pequenina, e bem bonitinha. Fica localizada na região de Pahar. É famosa pelo seu grande lago, e por ser cercada pelas montanhas do Himalaia. Assim que chegamos, fomos fazer check in no hotel The View Point (dá para ver as fotos no site: www.hviewpoint.com). É bem simples, mas bem bonitinho, e numa área bem central.

Chegamos mais ou menos às 14:30, e como tínhamos o dia livre, fomos todos fazer aquilo que mais gostamos - compras! Haha. Preciso confessar para vocês que to me tornando muito pão-dura aqui! Não aceito comprar nada sem antes pechinchar com os lojistas, porque afinal de contas "você cobrar 400 rúpias (10 reais) nessa camisa é um absurdo, meu senhor!"

Depois de dar uma voltinha na cidade e comprar alguns muitos souvernirs, fomos jantar no restaurante Moon Dance. Enfim um restaurante! Comida maravilhosa (quase chorei por estar comendo uma verdadeira lasanha, cheia de queijo e zero curry!). Reparei que eles gostam muito de ouvir jazz por aqui - quando não estão ouvindo jazz, é música típica nepalesa. Pois lá no Moon Dance estava tocando uma bela coletânea de jazz americano. Caprichei no pedido e bebi uma grande taça de vinho tinto com minha grande fatia de torta de maçã. Tudo isso por, que absurdo, 1000 rúpias (25 reais)!!

E então, já um pouco alegres, fomos para o hotel. Levamos algumas cervejas e ficamos bebendo no terraço, que tem uma vista maravilhosa de toda a cidade e das montanhas. Fomos dormir logo, porque íamos ter que acordar cedo para ver o nascer do sol nas montanhas do Himalaia...

Life is Awesome!!


Culinária

Conheço muitas pessoas que tem um pouquinho de frescura para comer fora de casa. Ainda bem que nesse quesito, eu e meu estômago temos uma aliança amigável: provo um pouquinho de tudo, e ele não reclama. Para mim, uma das coisas mais legais de se fazer em viagem é provar da culinária local! Mas apesar de eu ter adorado os chás daqui, não gostei taanto assim da comida nepalesa - principalmente porque quase tudo aqui é apimentado. 


A culinária, pelo que dizem, parece um pouquinho com a da Índia, especialmente pelos tipos de temperos (apesar de lá ser bem mais forte) - o que faz com que a comida do Brasil pareça insossa quando comparada. Já tentei, mas não consegui gostar de curry, gente!


Um ponto a favor para o Nepal foi o fato de ter sido o primeiro país que visitei em que tem arroz preparado igual ao nosso (quanto tem arroz e frango para o jantar aqui, pulo de felicidade!). A lentilha é bem saborosa, e até que eu gostei do macarrão com legumes, que é bem fininho e geralmente é frito.


Mas tem uma coisa que eu a-do-rei: o Momo! É um prato típico do Tibet que lembra um pouco o Gyouza da China - um bolinho recheado de carne ou vegetais, preparado frito ou cozido no vapor. Esqueci de tirar foto quando comi, então vou colocar uma imagem retirada do google:




Também devo acrescentar que gostei bastante das cervejas daqui, em especial a Everest e a Gokha. O problema é que nem sempre elas estão geladas (do jeito que brasileiro gosta, né?)

Aqui na residência da Idex nossa rotina funciona da seguinte forma: tomamos café às 7:30 (geralmente tem ovos, torradas, cereal, geléia.. nada muito diferente). Cada um dos voluntários vai para o seu respectivo trabalho, e retornamos por volta de 12:30. Almoçamos (já mencionei que a comida é vegetariana, né?). Depois de comer e descansar, cada um vai para o seu outro trabalho (existem vários projetos pela manhã e outros pela tarde). Retornamos por volta de 7:30 e jantamos. Tanto o almoço quanto o jantar tem comida mesmo. Nada de sanduichinho a la americanos - ainda bem!

sexta-feira, março 21, 2014

Sobre a Simplicidade

Conta-se que, certo dia, Buda reuniu seus discípulos e mostrou uma flor de lótus - símbolo da pureza, porque cresce imaculada em águas pantanosas.

- Quero que me digam algo sobre isto que tenho nas mãos - perguntou Buda.

O primeiro fez um verdadeiro tratado sobre a importância das flores.

O segundo compôs uma linda poesia sobre suas pétalas.

O terceiro inventou uma parábola usando a flor como exemplo.

Chegou a vez de Mahakashyao. Este aproximou-se de Buda, cheirou a flor, e acariciou seu rosto com uma das pétalas.

- É uma flor de lótus - disse Mahakashyao. Simples e bela.

- Eis aqui o verdadeiro sábio! Você foi o único que realmente viu o que eu tinha nas mãos - disse Buda.